Domingo, 26 de Maio de 2013

FUMO E FOGO

MUITO FUMO COM ALGUM  FOGO      

 

      Braga, cidade pacata, no século passado, depois dos conturbados tempos das invasões francesas, as consequentes discórdias que tiveram a sua origem nas ideias trazidas pelas tropas imperiais napoleónicas, como as lutas entre os partidários do liberalismo, consolidadas na Carta Constitucional e os Absolutistas, e um pouco mais tarde com a revolução que abalou o Minho e ficou conhecida como a da Maria da Fonte, entrou num período de relativa acalmia, numa verdadeira situação de conformismo, onde o seu estatuto de cidade de província, quase isolada do mundo, lhe conferia.

No entanto esta acalmia foi perturbada em 1862. A causa principal, pelo menos aquela que alguns informadores do tempo lhe quiseram atribuir, parece ter sido devida aos descontentamentos provocados não só pela entrada em vigor de novos e agravados tributos, como pela  imposição do sistema métrico, mas muito e principalmente pela má vontade que grassava contra o Ministério do então Marquês de Loulé e de Anselmo Braamcamp, como afirma Alberto Feio, no seu artigo "BERNARDA E BERNARDINA", publicado no " Diário do Minho" de 13 de Junho de 1926.

Segundo este consagrado investigador essa revolta ficou conhecida na história pela MARIA BERNARDA. À frente dos destinos camarários estava um elenco dirigido pelo Presidente Conselheiro Francisco Manuel da Costa, que tendo sido eleito para o biénio de 1860 / 1862, se encontrava no seu posto quando eclodiu  a revolta de 1862

Mas principiemos por regressar uma dezena de anos atrás, isto é a 1852.  Através do Ministério das Obras Públicas, Comércio e Indústria, foi decretada a reforma do sistema até então em vigor sobre pesos e medidas. Vejamos o que diz esse decreto que parece não ter sido bem aceite pelas várias camadas da população, apesar de no seu relatório preliminar se afirmar que o sistema até então usado, não servia as "necessidades da civilização", pois muitas eram as deficiências que tal sistema provocavam, como, por exemplo, de terra para terra as medidas divergiam - medida de Braga, de Barcelos, do Porto, etc.

Assim a Rainha D. Maria II, fez publicar o decreto que entre outros parágrafos, inseria, logo no seu primeiro artigo que em Portugal, se passaria a adoptar "o metro legal da França" como base legal de pesos e medidas, e no seu segundo artigo afirmava que esse sistema teria a nomenclatura de “sistema métrico decimal”. Fixava ainda e no seu terceiro artigo que a nova lei entraria em vigor, em todo o país, dez anos após a publicação do decreto.

Determinava ainda que o Governo mandaria confecionar os padrões necessários que seriam distribuídos por todas as Camaras Municipais e que chegado o prazo determinado, seria ilegal usar os pesos e medidas antigas sob a pena de multa e até de prisão aos infratores, devendo então todos os foros, pensões, encargos e contribuições públicas, ser pagos pelos novos regulamentos do sistema métrico decimal.Para tal se processar uma comissão nomeada ficaria encarregada de estabelecer tábuas de relação entre as medidas antigas e as novas que o novo sistema introduziria.

Ora, por certo, uma tal legislação que iria contra os costumes ou hábitos antigos, onde cada cidade ou vila, como já vimos tinha as suas medidas(como mais um exemplo temos ainda hoje as medidas das pipas de vinho que nuns lugares é de 500 litros e noutros é de 525 !), não poderia ser aceite facilmente por um povo quase totalmente analfabeto, e que não compreenderia com facilidade a abolição dos arráteis, das canadas, das varas e das medidas até então em uso, e muito dificilmente seria capaz de fazer a sua conversão as novas usanças.

Assim pois, a quando da entrada em vigor, dez anos decorridos do decreto de 1852, é natural que houvesse da parte da grande maioria da população, enorme resistência, que originou ou contribuiu em parte, como diz Alberto Feio, para o eclodir da revolta de 1862.

O que fez transbordar a taça do descontentamento no que diz respeito á lei do sistema métrico decimal, a avaliar pelo que deixou escrito o antigo director da Biblioteca Pública e Arquivo Distrital de Braga, foi o decreto que abaixo se transcreve :

       " MINISTÉRIO DAS OBRAS PÚBLICAS, COMÉRCIO E INDÚSTRIA

       Repartição de Contabilidade

Usando da faculdade concedida ao governo no parágrafo 8º do artº 2º da carta de lei de 28 de Julho de 1860, mandada vigorar pela de 17 de Agosto de 1861 : hei por bem ordenar, ouvido o conselho de estado, que no ministério dos negócios da fazenda se abra um crédito suplementar a favor do ministério das obras públicas, comércio e indústria, pela quantia de 53.755$482 reis, a fim de completar o pagamento das despesas ordinárias e outras extraordinárias que a repartição de pesos e medidas fez durante o ano económico de 186l-1862, com a compra dos pesos e medidas fornecidos às Camaras Municipais e outros depósitos criados pela portaria de 13 de Fevereiro de 1861 no continente do reino e ilhas adjacentes, para execução do decreto com força de lei de 13 de Dezembro de 1852.

O presidente do conselho de ministros, ministro e secretário de estado dos negócios estrangeiros, interinamente encarregado dos negócios das obras públicas, comércio e indústria, e o ministro e secretário de estado dos negócios da fazenda o tenham assim entendido e façam executar. Paço, em 14 de Agosto de 1862. = REI = Marquez de Loulé = Joaquim Tomaz Lobo de Ávila. D. de L. nº 189, de 23 de Agosto. "

Voltando ao Dr. Alberto Feio, e ao citado artigo, ficamos a saber que o governo, talvez já suspeitando de algo de anormal "inteligentemente", concentrou forças em Braga. O Regimento de Infantaria 8, que desde 1848, havia sido aquartelado em Braga, no Convento do Pópulo, tinha saído para fazer "guarnição nas ilhas". Bastas foram então as forças militares que nos primeiros dias de Setembro de 1862 estavam aquarteladas em Braga, sob o comando de um quartel-general da chefia do Barão de Palme, achando-se então como chefe do Estado-maior o major Manuel de Vasconcelos; continua informando Feio, que o regimento de infantaria 6, com todos os seus batalhões, se achava também na cidade bracarense e sob o comando do Coronel José Maria Gomes. Mas além destes efectivos, ainda estacionava na cidade dos arcebispos " um batalhão do 9, uma companhia do 5, outra de caçadores 3 e um esquadrão de cavalaria 6 "perfazendo todos um efectivo de mais de mil homens entre oficiais, sargentos e praças”.

Diz Alberto Feio que a alma do movimento era "um jornalista vigoroso, professor distinto, médico ilustre e notável cirurgião". Tratava-se do Dr. Manuel Joaquim Alves de Passos que com "Saldanha, queria a regeneração do País". Este senhor procurou o acordo do major Isidoro Marques da Costa "indicado para tomar a direcção do movimento até à concentração das forças em Famalicão que aí ficariam superiormente dirigidos pelo Coronel Sobral, Chefe do Estado Maior da 5ª divisão."

Estavam bastantes pessoas comprometidas na sedição. No entanto, continua informando Alberto Feio, circunstâncias inesperadas, precipitaram os acontecimentos. Um delegado bracarense - o Dr. José Maria Rodrigues de Carvalho - teve conhecimento da sedição e logo o levou ao então secretário do Governador Civil, Dr. Marques Murta, que por sua vez deu a notícia ao Governador Civil Dr. Francisco Campos, que deste facto imediatamente informou o Governo.

Tendo o governo então tomado as providências que o assunto requeria, mandou que o Barão de Palme assumisse o comando das tropas fiéis para repor a ordem que estava ameaçada. Para tal nomeou o coronel Gomes que indagar e por uma vistoria feita ao aquartelamento nada notou de anormal pelo que abandonou o regimento, não contando que logo após a sua saída o capitão Guilherme Augusto da Silva Macedo, se dirigisse ao quartel e armando os soldados, atacasse então o quartel do 9, na rua do Sardoal, ficando a guarnição sujeita ao seu comando  na madrugada de 15 de Setembro.

Em consequência destes primeiros sucessos revolucionários Alves Passos é nomeado novo Governador Civil. Surge então o general comandante que não é obedecido e o seu chefe do Estado Maior e o coronel Gomes são recebidos por uma descarga que mata o chefe do Estado Maior e fere o coronel e ainda uma bala perdida vai matar uma criança órfã que assistia a toda este movimento de uma janela do Colégio, no Campo da Vinha. No entanto a revolta falhou, e a ordem foi restabelecida. Os oficiais sediciosos abandonaram os soldados e procuraram o exílio.

Como consequência desta sedição, Dom Luiz, que havia pouco tinha iniciado o seu reinado, motivado na morte prematura de seu irmão Dom Pedro V, fez à nação uma

              “P R O C L A M A Ç Ã O”

Portugueses !  - Alguns desvairados por sugestões faciosas, em que invoca falsamente o meu nome, ousaram levantar em Braga o criminoso brado de revolta, violando as leis, desacatando o trono, desobedecendo aos seus comandantes, e manchando a honra do brioso exército português, que não pode ver irmãos de armas onde há sediciosos.

Portugueses, a vossa prosperidade é o objecto dos meus maiores desvelos, e a manutenção da lei fundamental é por mim considerada o mais sólido sustentáculo do meu trono. O meu governo fará manter a ordem pública, e respeitar as leis como o exigem os interesses da pátria, as liberdades públicas e os direitos legítimos da coroa.

Os iludidos que, reconhecendo um erro momentâneo, se apresentarem no prazo de três dias às autoridades, serão considerados pela minha real clemência; sobre os que se obstinarem no seu criminoso propósito, tornando-se réus do maior atentado, cairá todo o rigor das leis.

Que todos os bons cidadãos se unam e confiem na minha solicitude, como eu confio na sua dedicação e patriotismo.

      Paço da Ajuda, 15 de Setembro de 1862. = REI

                                         D. de L. nº 200, de 16 de set.

Logo no dia seguinte o Ministério dos Negócios do Reino, pela Direcção Geral da Administração Política, fez publicar o seguinte decreto:

"Atendendo às circunstâncias em que se acha o distrito de Braga e á urgente necessidade de restabelecer o império das leis e a ordem pública, alterada pelo mais criminoso atentado, e tendo em vista o que se acha providenciado no parágrafo 34º do artigo 145º da carta constitucional da monarquia ;  hei por bem, ouvido o conselho de estado, decretar o seguinte :

Artº 1º - Ficam suspensas no distrito de Braga, pelo espaço de trinta dias, todas as garantias individuais, e poder-se-á prender sem culpa formada.

Artº 2º -  Durante o mesmo prazo é ali proibida a publicação de todos os jornais, periódicos ou escritos impressos ou litografados.

Artº 3º -  São exeptuados de esta disposição os jornais literários e científicos.

Artº 4º -  As disposições do presente decreto principiarão a ter efeito desde que ao dito distrito chegar a participação devida.

Artº 5º - O meu governo, na primeira reunião das cortes gerais da nação portuguesa, lhes dará conta do uso que tiver feito as faculdades concedidas por este decreto.

            -Os ministros e secretários de estado de todas as repartições assim o tenham entendido e façam executar.  Paço da Ajuda, em 16 de Setembro de 1862 =  REI = Visconde de Sá da Bandeira = Anselmo José Braamcamp = Gaspar Pereira da Silva = Joaquim Tomás Lobo de Ávila = José da Silva Mendes Leal.                                    

       D. de L. nº 210, de 17 de Set."

Não foram precisos os trinta dias fixados no decreto, para voltar a população do distrito a ver cessados as suspensas das garantias individuais porquanto nos princípios do mês de Outubro o Ministério dos Negócios do Reino, Direcção Geral da Administração Civil, pela 2ª Repartição pôs fim ao estado de sítio :

" Tendo felizmente cessado as circunstâncias extraordinárias que motivaram o meu real decreto de 16 de Setembro próximo passado, pelo qual foram suspensas por tempo de trinta dias no distrito de Braga as garantias individuais, podendo prender-se sem culpa formada : hei por bem dar por terminado o dito prazo para os efeitos do citado decreto.

      Os ministros e secretários de estado de todas as repartições assim o tenham entendido e façam executar. Paço da Ajuda, em 3 de Outubro de 1862 = REI = Visconde de Sá da Bandeira = Anselmo José Braamcamp = Gaspar Pereira da Silva = Joaquim Tomás Lobo de Ávila = José da Silva Mendes Leal.

       D. de L. nº 225, de 21 Out. "

Consultando o Livro de Actas da Camara de 1862 - 1863, a fol. 71 - 23/ 09/ 1862, vemos o que aconteceu, pelo menos a um dos revolucionários :

" Por ter tomado parte activa na revolta o empregado José Carlos de Araújo Matos, pondo-se à frente de populares armados, dizendo-se seu comandante, o Governo Civil, aconselha a que o mesmo seja demitido, o que a Camara fez, "

No entanto porque Araújo Matos, aproveitando por certo, o que dispunha a proclamação real, foi perdoado da rebelião, como consta a fol. 97 - 27/ 12/ 1862 que diz :

" Retoma o lugar por ter sido perdoado do crime político, mando lhe sejam pagos ( a José Carlos de Araújo de Matos ) todos os vencimentos, descontando metade para o interino que o substituiu”.

 

      Não fora as duas mortes a que acima se fez referência, justificar-se-ia, outro título a esta crónica que seria MUITO FUMO E POUCO FOGO.

 

Braga, Agosto de 1995

                               LUIS COSTA

     

Presados amigos, é muito longo, mas parece que preferem ler logo na totalidade e não em género “folhetins” e por que se trata de notícia interessante para a história de Braga, resolvi apesentar numa só crónica

 

 

 

 

 

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publicado por Varziano às 14:38
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Sexta-feira, 4 de Junho de 2010

O Brasão de Braga

B R A S Ã O D E B R A G A Escudo Peninsular de azul (ascendência nobre, fidalguia); a imagem de Santa Maria ( Nossa Senhora vestida com uma túnica de púrpura (vestuário dos Reis – dignidade dos Cardeais) como Rainha do Céu e com manto azul cerúleo (cor do Céu), coroada à antiga de prata, tendo um lírio (símbolo de pureza, virgindade) de sua cor na mão dextra e sustentando o Menino Jesus, no braço sinistro; ladeada por duas torres de prata, lavradas a negro, e acompanhadas em chefe de três escudos de Portugal antigo (de prata, cinco escudetes de azul, cada carregado com cinco besantes de prata); coroa mural de cinco torres de prata, e na parte inferior um listel com a legenda “Braga”. 6 de Fevereiro de 2008 LUÍS COSTA
publicado por Varziano às 16:43
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Energias Alternativas

ENERGIAS ALTERNATIVAS Com a escalada dos preços do petróleo, a subir, sempre a subir sem nunca mais parar, constantemente somos martelados com a frase “Energias alternativas” uma panaceia que se espera que o urgente remédio para a doença das nossas finanças, não tarde e muito a chegar, porque quando tarde chegar, por certo o doente já deu o que tinha a dar, com a morte súbita da falência. É o aproveitamento da electricidade para mover os transportes rodoviários. É o gás natural, butano, propano ou outro “…ANO” qualquer. É o bio-disel, com aproveitamento dos óleos domésticos ou industriais. É o aproveitamento do vento, da energia solar, da energia das marés. É a solução do “empurra”, quando a massa não dá nem para o litro salvador, e a força braçal e “ombral”, é a solução para pôr a viatura, descansadinha e a bom recato na garagem, se a houver, ou na garagem estrela, a gosto do amigo do alheio. Também uma solução talvez económica, é dar que fazer aos cavalos, não os que se encontram dentro do motor, êste só “comem líquido mal cheiroso e poluente” mas os das antigas cavalariças, meio usado desde os longínquos humanóides, pelo menos desde que o nosso pré-histórico primata, num rasgo de uma inteligência em formação, descobriu e pôs em movimento a roda, adaptando-a a um meio de transporte que revolucionou o mundo. Eram já finos, e com um cavalo, puxando uma carroça, transportavam uma data deles, muito mais do que até então, só um ou dois o faziam no dorso da cavalgadura. Eram de facto selvagens finos, muito mais do que nós, os civilizados, que para o transporte, muitas vezes só de um, são necessários uma data de cavalos, agora baptizados de “CAVALOS VAPOR”. E ainda tinham uma vantagem sobre nós, os ditos civilizados, contribuíam para as hortas ecológicas e de certa maneira, pode dizer-se, não prejudicavam o ambiente com um natural adubo. Ora, com o andar da carruagem, com os preços dos combustíveis a subirem assim e depressa a atingirem o píncaro de que só alguns conseguem arranjar “pingues” para atestar os depósitos e com as carteiras a esvaziarem-se para encher os ditos, qualquer dia temos que regressar aos tempos dos anos quarenta do século vinte. E para fazer andar os “mobilles” , recorreremos de novo ao “GASOGÉNIOS”, solução então encontrada, não pelo exorbitante preço, mas sim pela falta do produto, arma vital da guerra. E pelas estradas fora veremos os actuais postos de venda de combustível, transformados em vulgares carvoarias a vender arrobas de lenha, para alimentar as caldeiras de produção de gás que fará movimentar os “bólides”. Será uma solução e até barata, não eficiente, mas de vagar se vai ao longe e sempre se economizarão uns cobres, como compensação dos atrasos que o remedeio provocará, e até, no inverno, servirá para aquecimento, e isto enquanto o estado não se lembre de lançar um imposto por esta “Energia alternativa”. E no caso das carvoarias não estarem à mão, será sempre bom carregar na mala uma boa dose de canhotas, como reserva, e como prevenção um bom e cortante machado para numa das bouças que se encontrarão pelo caminho ir fazendo um novo aprovisionamento. “Boa viagem” e não desanimem, “DE VAGAR SE VAI AO LONGE” !... Braga,1 de Junho de 2010 LUÍS COSTA
publicado por Varziano às 15:38
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Quarta-feira, 2 de Junho de 2010

Epedemias que assolaram a cidade

                                 EPIDEMIAS QUE ASSOLARAM A CIDADE

                                                                 - 1 -

      Desde tempos imemoriais que a cidade de Braga e não só, foi assolada por várias epidemias. Delas constam relatos dos vários memorialistas que se tem dedicado a história bracarense.  Ficou célebre nos anais a célebre PESTE NEGRA, que já quase nos finais da Idade Média assolou todo o País, bem como a Europa e à qual Braga não escapou

 

      As doenças epidémicas era e é um mal que sempre afligiu as populações. Nos tempos pré-históricos e até muito mais tarde, e até quase aos nossos dias, por certo eram elas um mal que dificilmente se debelava. Os curandeiros e feiticeiros com os seus remédios e as suas leituras e interpretações nas vísceras de animais e humanos e outras modos de tratamento hoje em dia que a nossa civilização teve que por de parte, pois não passavam de horríveis e nada recomendáveis processos  de cura, que nada resultavam, a não ser pelo poder da superstição e crendice as pessoas aceitando piamente  as mais diversas formas de pseudo-tratamento, acreditavam  por sugestão na cura.

 

      Mas, voltando às epidemias que assolaram não só Portugal como Europa inteira, principalmente, nos séculos passados, sabemos que a sua proliferação era o resultado das fracas condições higiénicas em que os homens de então viviam - ruas estreitas, onde raramente entrava o Sol, despejos para as vias  - " água vai " era então o aviso -, costumes de sanidade  onde a água e sabão jamais eram utilizados.  Lembramo-nos de ler algures que as damas da Corte e não só tinham por costume, chegados os primeiros frios do Inverno coserem as suas roupas, encobrindo o corpo, que só voltava a sentir o ar com o despontar da Primavera. Com tais costumes, como não haviam de proliferar as epidemias, como o tifo exantemático, a cólera morbus, a difteria, a peste nas suas mais diversas formas. Também os cadáveres dos animais mortos por doença o seu lugar era na rua. Conhecemos um pedido exarado num livro de actas da Junta de Paróquia de São Vitor, em meados do século passado  em que esta pede à Câmara de Braga para tomar providencias contra o lançamento para a via pública dessas carcaças doentias a que então chamavam de  animais CORRUPTOS .

 

          Como acima dissemos vários foram os memorialistas de Braga que escreveram  sobre as doenças epidémicas que grassaram em Braga.  Para já vamos  socorrer-nos de Silva Thadim que nas " Memórias Bracarenses ",  2º volume da nossa fotocópia e paginas 262 refere:

 

            "PESTE - Ano de 1505 - Governando o Reino de Portugal o Venturoso Rei Dom Manuel, se ateou em Lisboa uma furiosa peste  em a qual morreu povo sem número, como justifica o Arcebispo D. Rodrigo da Cunha na página 292 da sua "HISTORIA  ECLESIASTICA DE BRAGA, capitulo  62. infin. Damião de Góis, na crónica de El-Rei D. Manuel, p. 2, Cap. 94, fol. mihi 128 infin. ibi =

 

            Se ateou  logo peste tão brava na Cidade . . .  que foi necessário ir-se El-Rei com toda a sua casa para Almeirim, a qual pestilência se espalhou por todo o Reino. E foi uma das mais bravas, e cruel, que em muitos tempos se acha que houvesse em nenhuma outra parte de Portugal."

 

      Passa, depois baseando-se no relato de Damião de Góis a explicar como chegou a Portugal tão terrível mal :

 

            " Esta memoranda peste teve a origem de que vindo no ano de 1505, embarcado de Roma com Letras Apostólicas o nosso Arcebispo Dom Diogo de Sousa para tomar posse deste Arcebispado, se lhe infeccionou o seu navio, que causou o referido estrago da peste. Damião de Góis. Sª. ibi = "

 

      E a seguir  narra também à sua maneira :

 

            "Neste ano . . . mandou El-Rei a Roma Dom Diogo de Sousa, Bispo do Porto, o qual depois de ter negociado as cousas, que levava a cargo, e ser Arcebispo de Braga, se tornou ao Reino por mar, depois da chegada do qual a Lisboa, que foi no mês de Outubro se ateou logo peste tão brava na chegada de uma nau, que vinha em sua companhia tocada sem ele saber."

 

      Dom Rodrigo na HISTÓRIA ECLESIÁSTICA, é um pouco mais prolifico na sua descrição  :

 

            " Embarcou  ( Dom Diogo de Sousa ) no porto de Ostia, lançou ferro em Lisboa, mas foi a desgraça, que indo-se-lhe pelo discurso da viagem ajuntando outros navios, acertou ( sem o Arcebispo o saber ) vir um infeccionado de peste, que num momento, depois de descarregar, se ateou por Lisboa, e foi a maior, e mais furiosa que havia muitos anos se tinha padecido naquela cidade. Morreu povo sem número, os grandes despejaram a toda a pressa, e El-Rei se passou a Almeirim, onde o Arcebispo o informou do sucedido da embaixada, e apresentou os breves das graças que trazia." 

 

      Memorável foi outra epidemia que se declarou no ano de 1569. Baseando-nos de novo em Silva Thadim, veremos como ele relata essa peste no 2º vol. a pag. 279 a 283 :

 

            " 1569 -PESTE : No tempo deste rei ( Dom Sebastião, governando na sua menoridade a sua avó Dona Catarina ) e no governo do Arcebispo Dom Frei Bartolomeu dos Mártires, no Janeiro de 1569, se começaram a descobrir erzipelas, e carbúnculos de tão maligna qualidade, que instantaneamente comunicados de uns a outros privavam com tanta aceleração da vida, que logo se inferiu de se achar epidémico.

      Empreender a descrição deste universal contágio, é coisa impraticável. As mais vivas cores da pintura não poderão fazer uma pintura das misérias dos habitantes daquele tempo nem a imaginação pode formar-se senão uma fraca ideia desta cena. Para evadir esta fatalidade fugira a maior parte da gente para os arrabaldes, servindo-lhe de cama a terra, e os troncos de cabeceira. Mas deixando a miséria  dos vivos só me remeto a referir os seguintes autores que tratam do número dos mortos.

     

      O Doutor Abade Diogo Barbosa Machado, nas Memórias do Snr. Rei Dom Sebastião, tomo 3º Livro 2, cap. 15 n. gl. se explica nestas liberais palavras :

 

            " Chegou o mes de Julho, e como era ardente se começou a dilatar com tanta fúria este fogo devorador, que cada dia eram pasto da sua voracidade quinhentas pessoas. Por não haverem templos para as sepulturas  se sagraram olivais  e praias.

El n. 93 ibi .

      Para aplacar a Divina indignação, que com tão horroroso flagelo tinha reduzido a cadáveres mais de cinquenta mil moradores.

 

      O Padre Luís de Sousa na 3ª p. da História de São Domingos, Liv. 6. Cap. 9, se explica nestas pontuais palavras :

            " Entrando o tempo das calmas tinha crescido a contagiam ( sic ), que no mes de Agosto de 1569, houve dias de seiscentos mortos."

 

      À vista dos terríveis efeitos deste cruel contágio, que mais são para serem  chorados com lágrimas do que por zona ( ? ) explicados será Portugal, no século  X V I , consternado  com aceleradas mortes.

      A todos fazia este venenoso mal e aos fracos só com medo lhes  tirava a vida, e para os robustos, e de animo varonil  era lixo de fogo, que apontava, e derribava, feria, e matava tudo junto. O mesmo senhor, que estendeu o arco da sua indignação contra os povos das Províncias da Estremadura, e Alentejo. Também disparara a Venenosa seta contra os moradores de Braga, matando muitas pessoas, cujo fatal castigo foi horroroso episodia da enormidade das suas causas.

 

      O Arcebispo se achava ocupado em Viana com o seu Pastoral Ofício, e tendo noticias de que esta sua cidade ( Braga ) estava infeccionado, com o mal da peste, considerando, que não era Bom Pastor que lhe sofria vez de outeiro o pasto das ovelhas se por caminho para acudir com sua pessoa, e presença em Braga.

 

      Assim que entrou nela ordenou uma casa grande chamada da Saúde, situada na Coutada além do rio da Ponte de Guimarães, para recolher, e curar os feridos com médico, cirurgião, e barbeiro, com ministros e servidores.  Visitava o Santo Arcebispo aos enfermos, e mandou fazer vigorosa guarda nas portas da cidade.  Mandou fazer grandes fogueiras por todas as praças e ruas, melhor gado na cidade, e purificá-la de imundices.

 

      Contudo fugiram para fora da cidade duas partes dos seus moradores ; entre eles foram os religiosos jesuítas, alguns cónegos (  para São Lourenço da Ordem da Capelinha rezavam as Horas Canónicas , e que por ter relevada na parede lateral esquerda a representação da Sé, já depois da construção da galilé de D. Jorge da Costa - séc. X V -  é popularmente conhecida por SÉ  VELHA ) , e ministros da Relação.   As Religiosas do Convento dos Remédios suplicaram ao Arcebispo, que lhe concedesse licença para saírem da clausura para casa dos seus pais e não obstante negares-lhe licença pelo Arcebispo saíram para fora do Convento na Companhia dos seus pais, e a Madre Abadessa D. Maria de Abreu Abadessa do Convento se recolheu com vinte e uma religiosas mais pobres para casa de seus pais, que assistiam na freguesia de Briteiros.  Estando fora tornaram a requerer ao Arcebispo, e não lhe concedeu, recorreram ao Rei, e disse  que deviam suplicar ao Arcebispo.

      Sem licença existiram fora do Convento e da cidade, e cessando a peste querendo as freiras entrar no seu Mosteiro lhe mandou fechar as portas, para que não entrassem, e querendo o Arcebispo vindicar a desobediência mandou as Justiças Seculares, que entrassem dentro e registassem toas as celas de que as religiosas apelaram para a Séde Apostólica. Consta o expendido de um livro manuscrito, que tem no seu cartório as Religiosas dos Remédios de quarto de papel que tem por fora por título = Fundação dos Remédios = Cap. 142. fol. 78. v. e Seg.

 

      Ainda hoje, - continua Silva Thadim - existem memórias na Pedra do Cruzeiro da Ponte de Guimarães onde se lê o seguinte :

 

            " Sendo Arcebispo de Braga, D. Frei Bartolomeu dos Mártires houve peste nesta cidade ano de 1570, e os empestados foram trazidos a esta deveza ." Também temos desta peste outra memória em uma Campa de Sepultura, que está  no Campo de São Sebastião de fronte da porta travessa da parte  do Evangelho junto ao muro  de D. Isabel Matilde, a pedra da sepultura diz assim  = Aqui jaz Gregório Gomes ; faleceu em tempo de peste aos 20 dias de Março de 1590.

      A paginas 583, do mesmo manuscrito, diz : a fol. 281, se escreveu a peste de Braga, e se deve dizer o numero de mortos. Até ao dia 4 de Março de 1570 faleceram de peste em Braga vinte meninos, onze mulheres, sete homens.  Consta da Carta, que, ao Cardeal Infante Dom Henrique, escreveu o Arcebispo D. Frei Bartolomeu dos Mártires, datada de 4 de Março de 1570, que refere Frei Luís de Sousa na vida do mesmo Arcebispo tomo 2, livro 3 , Cap. 29 fol. 29,numero de mortes superior aos que faleceram na maior parte do Reino.

 

      Senna Freitas, na sua obra " Memórias de Braga ", vol. 4º, pag. 251, refere também esta  grande peste :  

            " Em 1569, declarou-se peste em Braga ; e dela há memória ainda numa inscrição lapidar, que sê no cruzeiro da ponte de Guimarães. Outros cruzeiros semelhantes  não existem já.

      Esta peste, que infectara o Reino em geral, foi denominada pela  peste grande ; e começou em Lisboa no dia 7 de Junho.

      Refere um físico de renome, que, na constituição penitencial do dito ano, nem sempre os tumores supuravam ; e que ficaram por toda a vida em alguns enfermos.

      El-Rei Dom Sebastião mandou vir de Sevilha dois médicos distintos ; mas o povo tinha deles pouca confiança ; e a esse respeito referia-se o rifão do Arcebispo Dom Fr. Bartolomeu dos Mártires :

            " Mate-nos Deus com os meus "-  aludindo aos ditos médicos.

      Conta-nos Fr. Luís de Sousa, que esta peste tivera principio em 1568, e durara todo o ano seguinte  -  fazendo maiores estragos do que pode crer-se : pois em Agosto de 1569, houve dia de 600 mortos em Lisboa

      Não era porem esta a peste o mal das gafarias, chamado também o mal de São Lázaro, e que fazia no povo, ( por sua frequência e intensidade ) maiores estragos nos primórdios da monarquia.

      Este contagio era imanente ; pôs seu assento, em muitas terras de Portugal, até ao século  X V I ; e por isso muitos legados a estas terras se fizeram.

      Era devida à elefantíase, e na máxima parte, às cruzadas e peregrinações à Palestina ; e sendo expulsos os mouros e judeus para o Levante e costas da Barberia ; e tendo Vasco da Gama descoberto mais breve caminho para o comercio das Índias Orientais ; fez isso diminuir muito o trato dos europeus com a pátria especial daquela enfermidade ; e por este motivo começaram a incorporar nos hospitais as rendas das gafarias.

      Teve o Arcebispo noticia da calamidade da peste, no ano seguinte ( 1570 ), andando em visita arquiepiscopal ; e não podendo conter-se, voou a Braga, onde fizera prodígios de Caridade Cristã, administrando Sacramentos, procurando preservativos aos sãos, e remédios aos aprestados, etc.

      Diz ainda Senna Freitas, na obra citada, a pag. 131 do 3º Volume :

                           " Epidemia geral no Reino "

      Em Dezembro de 1598,  rebentaria em Lisboa, e se estendeu por todo o Reino, uma epidemia geral, que só na Capital. cortara a vida a mais de 80 mil pessoas - flagelando por 5 anos as terras das províncias.

 

      Temos, portanto, aqui as impressões que vários autores nos deixaram desses calamitosos tempos. Mas não ficaram por aqui as desgraças das pestes, mais algumas voltaram a afligir o povo português, como veremos

 

      Mais noticias daremos em próximo artigo.

 

Braga, Outubro de 1994

                       

                                          LUIS  COSTA

publicado por Varziano às 19:58
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Epedemia 2

                        EPIDEMIAS  QUE  ASSOLARAM  A  CIDADE

                                                           - 2 -

 

 

      Não só a Braga, se refere o memorialista Silva  Thadim . No seu manuscrito narra também que a Peste se manifestou em Guimarães e por lá fez os seus estragos  como indica a fol. 58l :

 

            " Ano de 1602. Houve peste em Guimarães, que abrasou aquela vila,  e nela morreu no Convento de São Domingos o V. Padre Jorge dos Santos. "

 

      Voltando a Braga, o referido memorialista, informa de outra peste que surgiu na cidade :

 

            " Ano de mil setecentos e trinta e um anos - Doenças epidémicas - O mês de Fevereiro, e Janeiro deste ano de 1731, tem grassado uma grande epidemia da qual tem morrido muita gente, e para se aplacar este castigo se fez nesta cidade uma soleníssima procissão aos 3 de Fevereiro com as Confrarias, Irmandades, Cabido, e São Sebastião, foi debaixo do pálio. Saiu a procissão da Sé, e cercou os muros da cidade, e nela foram alguns andores. Havia quatro meses, que não tinha  chovido, e as fornadas iam a moer às azenhas  (mas não havia  água ) , mas depois da procissão , tem chovido bastante, e as doenças foram aplacadas."

 

      Senna Freitas nas suas " Memórias de Braga ", . vol. 3º , pag. 276 a 278, refere outra calamidade que assolou a região e que principiou por uma tremenda fome :

 

            " Ano de 1769 - As copiosas e continuadas chuvas, no ano de 1769, dificultando as sementeiras duns frutos e as colheitas de outros ; a aglomeração de tropas de infantaria e cavalaria nesta cidade de Braga ; foram prenúncios de um ano de fome.

      E de facto assim  acontecera : escassearam os géneros de primeira necessidade, e a carestia aumentara a fome ; crescia espantosamente a pobreza, que afluía a esta cidade ; os mendigos pelas ruas incomodavam os transeuntes ; nas casas dos padeiros, eram contínuos os alaridos para a compra de pão, que só com grandes instâncias e empenhos se vendia.

      Acudiu a esta calamidade o senhor Arcebispo D. Gaspar de Bragança, olhando para as necessidades do  povo com afecto de um pai para com os filhos.

      Mandou conduzir do norte e das marinhas, a expensas suas, grande quantidade de pão que fizera num celeiro no colégio ( celeiro do micho )  que fora dos Jesuítas ; ordenando que fosse repartido pelo povo, por um preço muito mais barato do que estava no mercado ; e deu ao mesmo tempo outras providências, com o fim de evitar o monopólio  -  fazendo-se uma rigorosa correição pelas casas dos celeiros, e obrigando a venderem pelo taxa o desnecessário.

      E ainda a sua mão caridosa, a ocultas, socorria muitas famílias em decadência.                

 

      Passando para o

                             ANO DE 1770

continua Senna Freitas :

 

            " Após as fomes do ano anterior, seguiu-se outro flagelo ainda ; foi a peste.

      Neste ano de  1770  manifestaram-se febres contagiosas e fatais, de que fora vitima não pequeno número de pessoas.

      Subiu de ponto, nesta angustiosa e assustadora ocasião, a caridade e a solicitude do Arcebispo magnânimo.

      Estando o hospital de São Marcos tão cheio de doentes, não, só pelos dormitórios, mas ainda em todos os lugares, onde podia ter uma cama, ( a ponto de que já não podia admitir mais doente algum ) ; ordenou o caridoso Arcebispo, que se fizessem enfermarias nas casas, que tinham sido aulas de estudo dos Jesuítas  - ficando sob a administração da Santa Casa da Misericórdia este hospital acessório ; e determinando outrossim, que aqueles que falecessem, fossem sepultados no quintal da horta do colégio dos Jesuítas, junto ao muro da cidade, pelo lado da rua do Alcaide.

      E para prover às despesas deste hospital provisório ; e acudir ao curativo da famílias pobres, que se tratavam em suas próprias casas ; determinou o bondoso Arcebispo, ao seu Desembargador Juiz dos Resíduos, que as corporações das  irmandades e confrarias contribuíssem com certas quotas de dinheiro, para os atacados da febres malignas.

      Muitas famílias saíram então da cidade para as aldeias ; um pânico assustador começava a impressionar todos os ânimos de Braga.

      Recruscedia a mortandade ; e então zeloso Arcebispo, para tranquilizar os moradores da cidade, determinou que fosse conduzida processionalmente, para a Sé Catedral, a imagem veneranda de S. Sebastião das Carvalheiras ; e com ela se fez uma edificante e solene procissão de preces, na tarde de 28 de Janeiro do mesmo ano de 1770.

      Nesta procissão, foram todas as irmandades e confrarias, assim como o Cabido, levando debaixo do pálio o Santíssimo Sacramento, que o Senhor Arcebispo logo a traz  acompanhava, com todos os seus familiares.

      Fez esta procissão o giro pelas ruas dos Açougues Velhos, rua Nova de Sousa, Porta-nova, Carvalheiras, rua do Alcaide, campo de S. Tiago, rua do Anjo, rua de São Marcos, Porta do Souto, Alpendres, Fonte da Cárcova, campo da Vinha, rua dos Biscainhos, Porta-nova,e rua Nova de Sousa, recolhendo de novo à Sé Catedral.

      Do Santuário do Bom Jesus do Monte, veio também, para a Igreja de São Vitor, a devotíssima Imagem do Senhor Crucificado.

      A santa Imagem da  Madalena veio para a igreja de S. Vicente, assim como a Sagrada Imagem do Senhor da Agonia.

      E aos 12 de Maio, ordenou o Sereníssimo Arcebispo a todas as irmandades e confrarias, fizessem procissões de preces a S. Vitor, a S. Vicente, ou à capela de São Sebastião das Carvalheiras, cantando Ladainhas.

      E no mesmo dia começaram a fazer-se rogativas de novenas, na capela de São Sebastião, e a S. Roque do Campo de Touros ; e ordenaram-se preces públicas nas igrejas do  costume.

      Calculou-se, que a mortalidade, nesta cidade, dos atacados destas febres malignas  -  incluindo não só os falecidos nas freguesias de Braga, mas também nos hospitais, durante o ano de 1770 - segundo o Relatório enviado ao governo pelo dito senhor Arcebispo, andava por 1.230 pessoas, de um e outro sexo.

 

      Como temos visto, as pestes nos séculos passados eram uma constante e a isso não deve ser estranho, como já dissemos, as más condições de vida e higiene em que viviam os povos. Muitas vezes só um grande mal resolvia os problemas de sanidade, como os casos de incêndio que destruíam as construções, quase sempre em madeira, local onde a rataria se albergava e era o principal transmissor das doenças. O fogo, apesar de um mal, era um mal quase necessário, e até certo ponto bem fazejo. Lembramos aqui o famoso incêndio de Londres que, apesar das suas terríveis consequências deve ter contribuído para acabar com  espécies daninhas que  serviram de transmissor das pestes que assolaram a Europa em séculos passados  e as quais Portugal, com as suas cidades e vilas não escapou.

 

      Mas ainda no século passado, apesar dos avanços da medicina, a Europa e por conseguinte Portugal, ainda sofreu o flagelo das pestes. Sabemos isso através de vários relatos que chegaram até aos nossos dias, não só através da imprensa - os jornais dos últimos anos do século X I X ,  a êste flagelo fazem referência - como através das actas das Câmaras que a ela fazem referência.

     

Voltando a Braga, o referido memorialista, informa de outra peste que surgiu na cidade :

 

            " Ano de mil setecentos e trinta e um anos - Doenças epidémicas - O mês de Fevereiro, e Janeiro deste ano de 1731, tem grassado uma grande epidemia da qual tem morrido muita gente, e para se aplacar este castigo se fez nesta cidade uma soleníssima procissão aos 3 de Fevereiro com as Confrarias, Irmandades, Cabido, e São Sebastião, foi debaixo do pálio. Saiu a procissão da Sé, e cercou os muros da cidade, e nela foram alguns andores. Havia quatro meses, que não tinha  chovido, e as fornadas iam a moer às azenhas  (mas não havia  água ) , mas depois da procissão , tem chovido bastante, e as doenças foram aplacadas."

 

      Senna Freitas nas suas " Memórias de Braga ", . vol. 3º , pag. 276 a 278, refere outra calamidade que assolou a região e que principiou por uma tremenda fome :

 

            " Ano de 1769 - As copiosas e continuadas chuvas, no ano de 1769, dificultando as sementeiras duns frutos e as colheitas de outros ; a aglomeração de tropas de infantaria e cavalaria nesta cidade de Braga ; foram prenúncios de um ano de fome.

      E de facto assim  acontecera : escassearam os géneros de primeira necessidade, e a carestia aumentara a fome ; crescia espantosamente a pobreza, que afluía a esta cidade ; os mendigos pelas ruas incomodavam os transeuntes ; nas casas dos padeiros, eram contínuos os alaridos para a compra de pão, que só com grandes instâncias e empenhos se vendia.

      Acudiu a esta calamidade o senhor Arcebispo D. Gaspar de Bragança, olhando para as necessidades do  povo com afecto de um pai para com os filhos.

      Mandou conduzir do norte e das marinhas, a expensas suas, grande quantidade de pão que fizera num celeiro no colégio ( celeiro do micho )  que fora dos Jesuítas ; ordenando que fosse repartido pelo povo, por um preço muito mais barato do que estava no mercado ; e deu ao mesmo tempo outras providências, com o fim de evitar o monopólio  -  fazendo-se uma rigorosa correição pelas casas dos celeiros, e obrigando a venderem pelo taxa o desnecessário.

      E ainda a sua mão caridosa, a ocultas, socorria muitas famílias em decadência.                

 

      Passando para o

                             ANO DE 1770

continua Senna Freitas :

 

            " Após as fomes do ano anterior, seguiu-se outro flagelo ainda ; foi a peste.

      Neste ano de  1770  manifestaram-se febres contagiosas e fatais, de que fora vitima não pequeno número de pessoas.

      Subiu de ponto, nesta angustiosa e assustadora ocasião, a caridade e a solicitude do Arcebispo magnânimo.

      Estando o hospital de São Marcos tão cheio de doentes, não, só pelos dormitórios, mas ainda em todos os lugares, onde podia ter uma cama, ( a ponto de que já não podia admitir mais doente algum ) ; ordenou o caridoso Arcebispo, que se fizessem enfermarias nas casas, que tinham sido aulas de estudo dos Jesuítas  - ficando sob a administração da Santa Casa da Misericórdia este hospital acessório ; e determinando outrossim, que aqueles que falecessem, fossem sepultados no quintal da horta do colégio dos Jesuítas, junto ao muro da cidade, pelo lado da rua do Alcaide.

      E para prover às despesas deste hospital provisório ; e acudir ao curativo da famílias pobres, que se tratavam em suas próprias casas ; determinou o bondoso Arcebispo, ao seu Desembargador Juiz dos Resíduos, que as corporações das  irmandades e confrarias contribuíssem com certas quotas de dinheiro, para os atacados da febres malignas.

      Muitas famílias saíram então da cidade para as aldeias ; um pânico assustador começava a impressionar todos os ânimos de Braga.

      Recruscedia a mortandade ; e então zeloso Arcebispo, para tranquilizar os moradores da cidade, determinou que fosse conduzida processionalmente, para a Sé Catedral, a imagem veneranda de S. Sebastião das Carvalheiras ; e com ela se fez uma edificante e solene procissão de preces, na tarde de 28 de Janeiro do mesmo ano de 1770.

      Nesta procissão, foram todas as irmandades e confrarias, assim como o Cabido, levando debaixo do pálio o Santíssimo Sacramento, que o Senhor Arcebispo logo atraz  acompanhava, com todos os seus familiares.

      Fez esta procissão o giro pelas ruas dos Açougues Velhos, rua Nova de Sousa, Porta-nova, Carvalheiras, rua do Alcaide, campo de S. Tiago, rua do Anjo, rua de São Marcos, Porta do Souto, Alpendres, Fonte da Cárcova, campo da Vinha, rua dos Biscainhos, Porta-nova,e rua Nova de Sousa, recolhendo de novo à Sé Catedral.

      Do Santuário do Bom Jesus do Monte, veio também, para a Igreja de São Vitor, a devotíssima Imagem do Senhor Crucificado.

      A santa Imagem da  Madalena veio para a igreja de S. Vicente, assim como a Sagrada Imagem do Senhor da Agonia.

      E aos 12 de Maio, ordenou o Sereníssimo Arcebispo a todas as irmandades e confrarias, fizessem procissões de preces a S. Vitor, a S. Vicente, ou à capela de São Sebastião das Carvalheiras, cantando Ladainhas.

      E no mesmo dia começaram a fazer-se rogativas de novenas, na capela de São Sebastião, e a S. Roque do Campo de Touros ; e ordenaram-se preces públicas nas igrejas do  costume.

      Calculou-se, que a mortalidade, nesta cidade, dos atacados destas febres malignas  -  incluindo não só os falecidos nas freguesias de Braga, mas também nos hospitais, durante o ano de 1770 - segundo o Relatório enviado ao governo pelo dito senhor Arcebispo, andava por 1.230 pessoas, de um e outro sexo.

 

      Como temos visto, as pestes nos séculos passados eram uma constante e a isso não deve ser estranho, como já dissemos, as más condições de vida e higiene em que viviam os povos. Muitas vezes só um grande mal resolvia os problemas de sanidade, como os casos de incêndio que destruíam as construções, quase sempre em madeira, local onde a rataria se albergava e era o principal transmissor das doenças. O fogo, apesar de um mal, era um mal quase necessário, e até certo ponto bem fazejo. Lembramos aqui o famoso incêndio de Londres que, apesar das suas terríveis consequências deve ter contribuído para acabar com  espécies daninhas que  serviram de transmissor das pestes que assolaram a Europa em séculos passados  e as quais Portugal, com as suas cidades e vilas não escapou.

 

      Mas ainda no século passado, apesar dos avanços da medicina, a Europa e por conseguinte Portugal, ainda sofreu o flagelo das pestes. Sabemos isso através de vários relatos que chegaram até aos nossos dias, não só através da imprensa - os jornais dos últimos anos do século X I X ,  a êste flagelo fazem referência - como através das actas das Câmaras que a ela fazem referência.

 

      De um jornal balnear publicado na Póvoa de Varzim, intitulado "A PRAIA", nos períodos estivais de 1899 e 1890, extraímos a noticia que no numero de 14 de Setembro de 1899, a seguinte noticia sobre a peste que então grassava no País e com incidência não só no Porto, como veremos mais adiante, por outras terras portuguesas :

 

                  EPIDEMIA  DO PORTO

 

      Acaba de ir à assinatura régia um decreto modificando largamente as medidas sanitárias impostas no Porto. É estabelecido o completo transito de passageiros pelas vias férreas, conquanto obrigados a desinfecção e vigilância  da polícia de saúde. As bagagens e mercadorias ficarão também sujeitas às necessárias beneficiações, estabelecidas em determinados pontos pelos quais somente se permite a saída.

      Estas prescrições, limitando muito o serviço do cordão militar, vão concorrer para que o movimento dos viajantes volte à normalidade, com que muito vão lucrar as estações balneares, enormemente prejudicadas já com as providências de rigor, sob que íamos vivendo.

      É de esperar, portanto, que, no mês de Outubro próximo haja já na praia grande animação de banhistas, de há muito na expectativa do ensejo de virem à Póvoa, terminadas que sejam as colheitas."

 

      Como que para sossegar os banhistas o mesmo jornal mas de 19 de Outubro desse mesmo ano, dizia em titulo :

 

                  ESTADO   SANITÁRIO

      " Continua deveras magnifico o estado sanitário desta populosa vila.

      O movimento hospitalar e obituário é diminuto e muito inferior à média ordinária.

      É de crer que a situação topográfica e o clima da Póvoa não sejam indifentes a esta situação, muito para estimar na quadra que vamos atravessando."

 

      No entanto na mesma página e no canto contrário vemos outro título :

 

                  COMO PREVENÇÃO

 

      "Nas estações do caminho de ferro, foi mando afixar o seguinte aviso:

            "Todos os indivíduos saídos do Porto, serão inspeccionados à chegada ao local do seu destino e ficam obrigados a apresentar-se à inspecção médica durante nove dias consecutivos.

      Em Lisboa faz-se a inspecção à chegada dos comboios no posto policial da estação, onde neste acto serão indicados aos passageiros os postos para as inspecções subsequentes. Nas estações em que esteja organizado o serviço de inspecção sanitária, proceder-se-à por forma análoga.

      Para as outras estações e localidades são os passageiros obrigados, independente de outro aviso, a apresentarem-se no prazo de doze horas depois da sua chegada e durante nove dias consecutivas ; esta apresentação é feita nos governos civis, quando a estação ou localidade for capital de distrito e nas administrações do concelho,  para as outras estações  ou localidades."

 

      Por êste aviso se vê que estava ainda longe o debelar do mal. E em Braga, o que sucedeu ? Veremos isso em próximo artigo.

 

Braga, Outubro de 1994

                            

                 

 

                                   LUÍS COSTA 

publicado por Varziano às 19:56
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Epedemia 3

 

                             EPIDEMIAS QUE ASSOLARAM A CIDADE

                                                                - 3 -

 

      Depois que  se soube, em 1899,  da peste que estava a grassar pelo País a Câmara de Braga tomou imediatas medidas para que a região não fosse atingida pelo mal ou que pelo menos os seus efeitos em Braga, fossem na medida do possível atenuados.

 

      Assim o sabemos pelo Livro de Actas de 1898 -1901, que a fol. 145 v.- 19 de Agosto de 1899 -  relata uma " deliberação tomada acerca das providências que devem tomar-se para evitar a peste bubónica " :

 

            ". . . O senhor presidente declarou que tinha convocado esta sessão  como lhe fora recomendado na circular numero treze que o Senhor Governador Civil lhe dirigiu, com data de dezassete do corrente, para deliberar acerca das providências que deveriam tomar-se para evitar e combater a peste bubónica que infecciosa a cidade do Porto. Sobre o objecto desta sessão  tomaram-se as seguintes resoluções : pedir ao Exmº Snr. Governador Civil que se digne solicitar ao Governo de Sua Magestade a necessária autorização para esta Câmara poder aplicar às despesas urgentes de prevenção contra a peste bubónica a quantia de um conto e duzentos mil reis, importância do excesso do saldo em trinta e um de Dezembro último sobre o calculado no orçamento ordinário, fazendo-se em seguida o respectivo orçamento suplementar ; e fazer a requisição de desinfectantes precisos e pô-los à disposição da polícia para acudir às necessidades públicas . . ."

 

      Nesta mesma ocasião criou-se uma Comissão nomeada por um comício organizado no antigo Teatro São Geraldo ( situado no gaveto do hoje Banco de Portugal ) para auxiliar o combate ao terrível mal. A essa Comissão faz referência a acta de 21 do mesmo de Agosto, e no fol. 146 v.  :

 

            ". . . Obtida prévia autorização, entrou na teia a Comissão nomeada no Comício realizado no Teatro São Geraldo, e o respectivo Presidente, o Exmº Snr. Visconde de Nespereira, apresentou diversas reclamações deliberadas naquele comício, tendentes a melhorar as condições higiénicas da cidade, a evitar a invasão da peste bubónica que grassa na vizinha cidade do Porto e tornar menos difícil a defesa sanitária. No desempenho do seu mandato a Comissão pediu à Câmara que por meio de um empréstimo, quando não possa por transferência de aplicação de receita, se habilite a ocorrer às despesas a fazer em ordem a impedir a invasão da peste e evitar as suas horrorosas consequências. O Senhor Presidente declarou que esta vereação está unanimemente disposta a providenciar, dentro dos seus limitados recursos em ordem a melhorar, tanto quanto possível o estado sanitário da cidade, colocando-se ao lado da autoridade administrativa para a coadjuvar neste propósito.

      Além das providências tomadas na sessão extraordinária realizada no dia dezanove do corrente, ainda nesta sessão fazia outras propostas relativas ao assunto que prende a atenção publica.

      Retirando-se a Comissão, o snr. presidente fez  as seguintes propostas :

      Que se dê parte à polícia que requisite do snr. João José de Carvalho a cal precisa para a desinfecção das casas pobres ;

      Que a Câmara tome efectivo contrato com o snr. José Maria de Araújo, da casa para isolamento de qualquer passageiro infectado de doença suspeita :

      Que se mande imediatamente tapar aquelas bocas de lobo que se não possam desinfectar e que causem maior risco à salubridade pública ;

      Que se exerça a fiscalização mais rigorosa nas praças e mercados públicos ;

      Que se convidem todos os moradores da cidade a mandarem caiar as suas casas ;

      E que a Câmara auxilie quanto em si caiba e por todos os modos a autoridade administrativa. "

 

      Do resultado da representação ao Governo para a utilização da verba resultante das sobras do ano antecedente, no combate e prevenção da peste, dá-nos relação a acta de 28 seguinte que a fol. 148, refere :

 

            ". . . OFICIO - do Snr. Governador Civil, comunicando que, por telegrama, lhe fora participado pelo Ministério do Reino ter sido autorizada esta Câmara a despender com medidas de salubridade pública a quantia de um conto e duzentos mil reis, proveniente do excesso do saldo em trinta e um de Dezembro, devendo a Câmara em orçamento suplementar incluir essa despesa para ser devidamente legalizada . . ."

 

      De posse deste despacho tratou logo a Câmara de tomar as providências mais aconselháveis . No mesmo dia em que recebeu a comunicação do Governo Civil, resolveu,  ainda dentro da sessão que estava a realizar, propor uma primeira medida sanitária -  fol. 149 :

      ". . . Sendo da mais alta conveniência, na presente conjuntura, promover por todas as formas a remoção de quaisquer focos que, dentro desta cidade, possam infeccionar a atmosfera, e sendo a criação de porcos uma das causas que mais actuam sobre o viciamento do ar, e dando margem à postura de 21 de Julho de 1884, reguladora deste assunto, a inúmeros abusos que convêm cortar cerce, e sendo também indispensável procurar precaver a  cidade do contágio da peste, por medidas de limpeza que a ciência aconselha , a Câmara aprovou a seguinte postura provisória :

      Artigo lº - É proibido nesta cidade a criação de porcos, sob a multa de mil reis por cabeça.

      Artigo 2º - Os proprietários de prédios urbanos ficam obrigados a mandar branquear os mesmos prédios interior e exteriormente dentro do praso de vinte dias, contados da data da publicação desta portaria, ficando os contraventores sujeitos à multa de mil reis.

      Parágrafo único - Os prédios cujas paredes sejam revestidas de outro material que não seja cal, serão beneficiados conforme por aconselhado pelos peritos.

      Artigo 3º - No caso de desobediência, serão os contraventores enviados ao poder judicial. 

 

      Mas as medidas da Câmara não ficaram nem podiam ficar só pelas posturas. Tornava-se necessário adoptar mais medidas preventivas, dado que o mal parecia querer aproximar-se da cidade.

 

      Assim, no dia 2 de Outubro - fol. 157 - a Câmara resolve aceitar a  criação de  um posto especial de desinfecção, dando satisfação a uma sugestão da Direcção da Associação Médica do Distrito :

 

            " . . . O senhor Vice-Presidente comunicou à Câmara que tinha sido procurado pela Direcção da Associação Médica deste distrito, que vinha pedir o auxilio do Município para a instalação de um posto de desinfecção ; pôs em relevo a urgente necessidade deste melhoramento, grassando na vizinha cidade do Porto, a epidemia denominada peste bubónica, e repetiu a informação que dera aquela benemérita  Direcção, acerca da falta de recursos do Cofre Municipal para ocorrer a estas despesas e a opinião  que tinha apresentado e com que os comissionados tinham concordado sobre a forma de se obter esse melhoramento  -  representar ao Governo de Sua Magestade pedindo-lhe a montagem de um posto de desinfecção nesta cidade, ficando apenas a cargo da Câmara a despesa da construção.

      A Câmara concordando  plenamente com o Snr. Dr. Rego, deliberou unanimemente representar ao Governo de Sua Magestade no sentido indicado e, na hipótese de ser indeferido tão justo pedido, solicitar ao Governo o pagamento dos subsídios em dívida a esta Câmara, relativas  a estradas construídas devendo em orçamento suplementar aplicar-se a importância recebida ao estabelecimento de um posto de desinfecção nesta cidade. . ."

 

      No entanto não adormeciam os edis à espera da resolução ministerial e como prova da sua constante preocupação pelo combate à Peste Bubónica, vemos que na medida das suas disponibilidades, iam tomando as medidas possíveis. Assim a acta de 9 de Outubro - fol. 159 v. - vemos que disponibilizou  nove mil e oitocentos reis com a compra de um pulverizador - FIGARO -para serviço de desinfecção, e de três mil e quinhentos reis para a compra de cal em pedra, requisitada pelo Comissário de polícia para desinfectantes.

 

      A Câmara preocupada com a infiltração da peste na cidade não deixou de aproveitar a sugestão da Comissão nomeada e logo no mesmo dia em que tomou conhecimento da proposta do Dr. Rego, como representante da Comissão, representou ao Governo, conforme se lê no respectivo livro de representações :

      "Outubro, 2 - Senhor. A Câmara Municipal da cidade e concelho de Braga, vem perante Vossa Magestade, solicitar o auxilio de que carece para defender os seus munícipes das terríveis consequências da invasão da meningite cérebro espinal,(ou peste bubónica?) que infelizmente grassa na próxima cidade do Porto.  Senhor . A montagem em Braga de um posto de desinfecção é hoje uma necessidade urgente e inadiável, mas esta Câmara não tem recursos para esta despesa. Não há no seu orçamento em vigor nem no cofre municipal, a autorização necessária e os meios indispensáveis para a aquisição da estufa . . .( de desinfecção ) e estabelecimento desse posto ; mas, uma vez montada a máquina de desinfecção, o município pode, com algum sacrifício, ocorrer às despesas da sua conservação.

      Em nome, pois, da vida e dos interesses deste povo trabalhador ameaçado pelo medonho flagelo da peste bubónica, esta Câmara suplica a Vossa Magestade que haja por bem ordenar a montagem do referido posto de desinfecção, ficando a cargo desta municipalidade as despesas de conservação. Deus Guarde por muitos anos a preciosa vida de Vossa Magestade. Braga, Paço do Concelho, 2 de Outubro de 1899. O Vice-presidente da Câmara - Manuel Joaquim Peixoto do Rego."

 

      No entanto o pedido parece não ter sido atendido com a urgência que o caso requeria, pois em  28 de Junho do ano seguinte a Câmara, volta de novo a insistir na criação do posto tanto mais que a peste já tinha atingido a cidade.

 

      Deixaremos, por agora, e para outro dia, as diligências de novo retomadas.

 

Braga, Outubro de 1994

publicado por Varziano às 19:49
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Palácio do Raio

                O  PALÁCIO  DO RAIO

Mandada edificar em 1754, por

João Duarte de Faria

Atribuído o seu risco a

André Soares ( André Soares Ribeiro da Silva )

Situado no popularmente conhecido como largo do Raio, toponímia não reconhecida oficialmente, o Palácio ou Casa do Raio, é um dos mais singulares edifícios da cidade, e um cartaz turístico bracarense dos mais fotografados por inúmeros turistas.

Mandada edificar por João Duarte de Faria, ao tempo mesário da Confraria de Santa Maria Madalena, da Falperra, com risco atribuído ao “arquitecto do Minho”, André Soares ( André Soares Ribeiro da Silva ), o Palácio ou Casa do Raio é também atribuído ao mesmo artista, tudo se conjugando para que assim seja, já que a data da sua construção é da mesma altura e, por certo Duarte Faria, não encomendaria a outro que não Soares, a feitura do seu palácio, dado que a fachada do templo de Santa Marta, onde era, parece que, mesário tesoureiro,  deve ter influído e muito para o agrado da sua escolha.

Assim, o Palácio, é uma obra prima do período setecentista, de típica arquitectura primitiva barroca, no melhor estilo joanino, “ró-có-có”, inspirado nas gravuras que a Portugal estavam a chegar, vindas do centro da Europa. Feliz adaptação “soaresca” ao estilo floreado francês “rocaille” , que segue o estilo da fachada do mencionado templo da Falperra.

“Rocaille” é um motivo decorativo “nascido da estilização barroca das  conchas (vieiras) usadas na decoração das grutas fingidas desde o Renascimento. Ganhando formas assimétricas num jogo de curvas e contracurvas…” – Selecções Readr’s.     

Na fachada, o portal, profusamente recortado e decorado, flanqueado por duas volutas ( tipo das do edifício camarário ) que se prolongam até ao balcão varanda desenhada em pedra e com balaústres, vêem-se, em cada canto, duas esculturas decorativas, que não interrompem a ilusão de que as volutas da entrada se prolongam até quase à platibanda do edifício, coroada por uma sucessão de balaustrada, interrompida ao centro por uma cartela, com as armas da casa, sobrepujadas por um frontão quebrado, sobre o qual se encontra um acrotério decorativo encimado por uma espécie de vaso florido.

Recorrendo a Vaz-Osório da Nóbrega, e ao seu trabalho Pedras de Armas e Tumulares do Distrito de Braga, a cartela representa não as armas de do primitivo dono da casa, João Duarte de Faria ( as deste  senhor  encontram--se arrumadas sobre os muros da traseira do Palácio ) mas sim as do Visconde de São Lázaro, título com que foi agraciado Miguel José Raio, pelo rei Dom Luís, em carta de armas de 12 de Abril de 1872.

A leitura deste brasão é a seguinte:

Localização:

   - Casa do Raio.

   - Frontaria.

                        Material: mármore

Época: o Visconde de São Lázaro teve carta de armas em 12 de Abril de      1872 e faleceu a 14 de Agosto de 1875.

LIÇÃO HERÁDILCA:

Classificação: heráldica de família.

Conjunto: - Escudo inglês.

                 - Coronel de nobreza.

                 - Timbre.

                 - Folhas de acanto ladeando o escudo.

                - Fitas pendentes do escudo e das folhas de acanto, com a insígnia de Cavaleiro da Ordem de Cristo, do Brasil, e as comendas da Ordem de    Cristo e de Nossa Senhora da Conceição de Vila Viçosa.

    Escudo: Composição: partida.

  Leitura:          I GONÇALVES, de Antão Gonçalves          (1)

                                    II  OLIVEIRA                                    (2)

            Diferença: uma brinca com besante                                         (3)

Timbre de GONÇALVES, de Antão Gonçalves                     (4)

(1)   Banda carregada de dois leões rompantes.

         (2)  Uma oliveira carregada. Indicando esmalte do campo          (vermelho)

A platibanda está escondida por um balaústre de papos, sobre o qual se podem ver seis vasos ou urnas, flamejantes ( três em cada lado da balaustrada ) e, nos cantos, rematando os cunhais, quatro bojudos, simulando urnas fechadas.

Penetrando no edifício, vamos encontrar como na Domus Municipalis

 um átrio, um pouco maior que êste, mas a sua disposição e formato obedece aos

 mesmos cânones – de cada lado uma porta de acesso a gabinetes e frontalmente

uma portada central, de grande formato e imponência de entrada para a escada

para o andar superior e aos lados desta uma porta, como na Câmara.

De notar, na portada central, anteparo da escada, a decoração nos vidros (cristal ?) a fogo.

O lambrim que se apresenta em todos os lados da escada nobre, bem como no patamar que se segue ao primeiro lanço, são azulejos do século XVIII, (azul e branco) com motivos de caça, alguns exóticos, lembrando o autor da azulejaria, de cabeceira, do Panteão de São Vicente, em Lisboa.

Os azulejos estão, ou estavam quando por lá passamos, em franca deterioração. Segundo nos informaram parece que já estão tratados ou o vão  ser, pois também nos informaram que o Palácio, no futuro será destinado a Museu da Santa Casa, esperemos que assim seja.

No entanto algo cremos ser irremediável. Referimo-nos a azulejos de algumas dependências superiores que, em tipos idos, foram danificados e possivelmente arrancados. Dos que restavam julgo, pois já se passaram vários anos depois que os apreciamos, não eram figurativos, mas parece-nos que eram do tipo holandês, muito embora de fabrico nacional.

Como em São Vítor, no lambrim do patim ou patamar em que a escada se divide em dois lanços, há também uma discrepância - o painel está cortado e a cena que representa interrompida, pelo que é de pensar que o desenho do azulejo era maior do que o painel.

Ao chegar a este patim ou patamar uma coisa chama a nossa atenção. Trata-se dum nicho que alberga uma figura que alguns chamam de “Mexicano”, dando em resultado que, por vezes, o verdadeiro nome do Palácio é trocado pelo Palácio do Mexicano. Esta figura empunha um facho de algumas luzes, hoje lâmpadas eléctricas e outrora, primeiro velas e depois, talvez, bicos de gás.

 

                                              

   

   

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Terça-feira, 1 de Junho de 2010

Rua de Janes

RUA  DE  JANES

 

Rua de características medievais, e que segundo o Dr. Alberto Feio, já existia, pelo menos desde os princípios da Nacionalidade. O seu nome de Janes tem dado a inúmeras interpretações, umas mais realistas, que outras mais fantasiosas como a que lhe deu o nome por ali ter morado um sapateiro de nome Janes, ou porque por ali teria havido um templo dedicado a Jânus, antigo rei da Itália que foi divinizado, como deus das portas e das passagens, representado simbolicamente por dois rostos que vigiavam a entrada e saída. Esta interpretação é a que mais se aproxima, quanto a nós, da sua origem, não acreditando, no entanto, que quando lhe atribuíram o nome, por ali houvesse qualquer templo.

Como o significado do termo latino Jánûa (muito próximo, “lingualiscamente” falando, de Jânus) é porta de entrada de uma casa ou duma CIDADE, ou saída, não nos repugna que seja essa a origem do topónimo de que vimos tratando. Ora nos tempos em que a cidade estava cercada pela muralha Fernandina, o único acesso à porta nascente de Braga (Porta do Souto, do Castelo ou da Abadia), vindo do Bairro das Travessas, visto não existir ainda a rua do Souto, era a  hoje rua de JANES. Nos documentos antigos, aparece por vezes Jano e Jánoas.

 Foi um significado, usado por Almeida Garrett, no seu livro “O arco de Sant’Ana”, em que a pag. 21, edição Livraria Chardron, diz “…essa negra porta. Dizendo isto apontou com um gesto significativo para a tremenda janua inferi  (porta do inferno)”.

Algumas das casas desta rua ainda possuem os característicos poiais – bancos de pedra no interior e ao lado das janelas, que entre outros fins serviam, quando os namoros eram feitos de gargarejo, para se sentarem, encobertas pela meia janela ou cortinado, as cabeças de estopa, que ali se postavam para tomar conta do namoro a ter tento na língua.          

publicado por Varziano às 21:37
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ipedemia4

 

                        EPIDEMIAS  QUE ASSOLARAM   BRAGA

                                                           - 4 -

 

      De facto em 8 de Junho de 1901, a Câmara volta a insistir junto do Governo para ser criado em Braga, um posto de desinfecção há muito reclamado, mas que não tinha ainda sido instalado e que agora, com a invasão da peste na cidade, mais premente se tornava a sua concretização. Assim no Livro de Correspondência enviada ao Rei e ao Parlamento, volta a Câmara a repetir, em 8 de Junho de 1901, palavra por palavra, a representação que tinha feito em 2 de Outubro de 1899, e desta vez assinada pelo Presidente José  Júlio Martins Sequeira .

 

      Possivelmente desta vez, porque o assunto era agora muito mais grave, foi atendida a representação porquanto, no mesmo livro de representações há uma outra datada de 6 de Dezembro :

 

            " Senhor. A Câmara Municipal desta cidade e concelho de Braga, no desempenho de uma das suas mais importantes atribuições, como é de promover a realização de todos os melhoramentos morais e materiais dos seus munícipes, solicitou e obteve do Governo de Vossa Magestade, por despacho ministerial de 4 de Agosto do corrente ano, além de outras máquinas, uma estufa Skimmel, grande medida para a criação de um Posto de desinfecção nesta cidade. Apesar disso, Senhor, esta Câmara, na acanhada esfera dos seus próprios recursos, não encontra meios de poder obter o terreno necessário para estabelecer o referido posto e por isso vem muito respeitosamente solicitar a Vossa Magestade, haja por bem ordenar que pelo respectivo Ministério seja cedido (.......)  a esta Câmara uma porção de terreno na extrema leste da vasta cerca ocupada pelo parque e jardim do edifício do Governo Civil e bem assim seis moradas de casas baixas, pequenas e velhas que defrontam o aludido terreno com a cerca do Hospital,  para serem demolidas e aplicado o material na nova construção do edifício do Posto ficando a cargo desta Câmara as despesas da sua conservação ( julgamos ser as instalações que ainda chegaram aos nossos dias e que era o balneário, construção que ainda se pode ver servindo a P.S.P. ) Deus Guarde a Vossa Magestade por dilatados anos. Braga, Paço do Concelho, 6 de Dezembro de 1901. O presidente da Câmara, José Júlio Martins Sequeira.

 

      Debelada que foi a peste que atormentou o Pais  no final do século  X I X, não sem deixar profundas marcas com o morticínio que ocasionou, não temos notícia, em Portugal, nos primeiros anos do século actual de outro qualquer flagelo digno de notícia. Surge entretanto em Agosto de 1914, a Primeira Grande Guerra, que se não foi uma peste foi um flagelo que acarretou consigo milhões de mortos, muitos dos quais insepultos durante muito tempo ( não havia tempo de cuidar dos mortos, mas sim dos vivos ), provocaram a eclosão de males e pestes das quais a mais terrível foi, sem duvida, a peste da gripe pneumónica e que aliada a outras, como   o tifo exantemático e a cólera morbus,  grassou com feroz intensidade por toda a parte e em Braga, fez os seus estragos.

 

      Como em outras ocasiões, como já vimos, o Hospital de São Marcos, ficou completamente inoperante para receber as centenas de atacados destes males que ali ocorriam todos os dias.  Como remédio de ocasião valeram as antigas instalações do Colégio do Espírito Santo ( hoje ocupadas pelo Liceu Sá de Miranda )  que serviram durante aquele período calamitoso dos anos que sucederam à Primeira Grande Guerra, como um quase hospital de campanha, onde eram assistidos os doentes que não tinham lugar no velho Hospital de São Marcos.

      Recordando os mártires, que no exercício da sua benemérita   profissão se sacrificaram a bem dos outros,  estão duas lápides, colocadas na parede de uma das alas do claustro superior do Hospital de São Marcos que lembra aos vindouros os nomes gloriosos desses homens e mulheres :

 

            "A MEMÓRIA DO PESSOAL DE ENFERMAGEM

            VITIMA DA EPIDEMIA DA GRIPE PNEUMÓNICA

                                      EM  1918  -  1919

             ROSA MARIA DA SILVA,

             MARIA DA SILVA LOUREIRO

             LUISA ROSA DA COSTA

             MARIA DA CONCEIÇÃO

             JÚLIA DA SILVA

             EMILIA ROSA GONÇALVES

             ROSA DA CONCEIÇÃO LAGES

             ANA CANDIDA

             AUGUSTO DA SILVA TEIXEIRA

             ARTHUR FERREIRA

             ARNALDO FEREIRA DA CRUZ

             JOSÉ CARDOSO

 

      Todos morreram no conjunto rigoroso das suas                                obrigações profissionais. 

                 

     Homenagem do Corpo Clínico deste hospital

Autorizada pela Exmª Mesa em 24 de Março de 1919 

 

       A seguir uma outra lápide homenageia também um médico :

 

                        Á  MEMÓRIA

                        DO  COLEGA

                  DR. ANTÓNIO CASIMIRO

                              CRUZ  TEIXEIRA

            VITIMA  DO  TIFO  EXANTEMÁTICO

      ADQUIRIDO NO EXERCÍCIO DA SUA NOBRE

                        PROFISSÃO

       DESVELADO MÉDICO DAS CLASSES POBRES

                E TRABALHADOR INCANSÁVEL.

             QUE O SEU EXEMPLO FRUTIFIQUE.

 

     HOMENAGEM DO CORPO CLINICO DESTE HOSPÍTAL,

AUTORIZADA PELA EXMª  MESA EM 24 DE MARÇO DE 1919.

 

      Decorridos anos, em 1939, de novo a Guerra volta a assolar  o Mundo, Foi a 2ª Grande Guerra, que ainda foi mais mortífera que a 1ª . Durante os 5 anos que durou, por quase todo o Mundo, desde a Europa ao Pacífico, passando pela África e Próximo Oriente, dado os meios de que dispunham os avanços da química, medicina e higiene, não podemos dizer que ocasionasse os terríveis efeitos epidémicos que, como a lª., causou.

 

      É certo que logo nos primeiros  anos que se seguiram à incipiente paz que se instalou, uma epidemia de graves proporções, mas não tão maligna como as 1918 - 1919, assolou o País, causando um elevado numero de doentes, principalmente entre os mais sujeitos a contágios -  idosos e crianças - qual foi a célebre GRIPE ASIÁTICA - que  durante um Inverno incomodou muita gente.

 

      Mas o tifo,  e  outras doenças epidémicas quase passaram despercebidas pela Europa, possivelmente a um meio de desinfecção por um produto altamente tóxico - o DDT -, que era aplicado, muitas vezes, com aparelhos de "enxofrar", aplicando-o  directamente sobre os corpos das pessoas e desinfectando as casas e outros lugares onde pudesse surgir uma epidemia como nos casos de destruições de prédios onde ficavam à mercê das intempéries, calor e decomposição, vários mortos. A esse poderoso desinfectante, mais tarde retirado da circulação pelo seu perigo de alto risco, que como dissemos já, provocou muitos acidentes mortais, se deve, talvez em parte, o não terem surgido doenças infernais que sempre acompanharam e tiveram como consequência as guerras com todos os seus horrores.

 

      E para terminar voltamos a recorrer a Senna Freitas que nas suas " Memórias de Braga ", vol. 5º, pag. 82 e seguintes, dá umas notícias que servirão de remate a estas breves notas sobre as pestes que assolaram o País e também se fizeram sentir na cidade dos Arcebispos.   Diz então :

 

            ". . . Não cumpre esquecer também, que o nosso Portugal, em relação a outros países da Europa, foi dotado sempre de salubridade maior.

      Dizia o Padre Francisco de Santa Maria, que rara vez houve peste em Portugal, antes da tomada de Ceuta na África, e perda de El-Rei Dom Sebastião no mesmo continente.

      Marca ainda o mesmo autor quatro épocas de peste, a que os antigos denominaram de pestes grandes, pela sua mortandade extremosamente horrorosa :

      A lª.,  em 1458 ; sendo tanta a sua mortandade em Lisboa que esta parecia um ermo       desolado ;

      A 2ª., em 1493 ; sendo nomeadamente muito ateada no Porto :

      A 3ª., em 1569 ; sendo terribilíssima por todo o Reino ( como já vimos Braga sentiu-lhe bem os efeitos ) : e morrendo dela, só em Lisboa, umas oitenta mil pessoas :

      A 4ª., em 1579 ; dizendo-se chegaram a quarenta mil pessoas as perecidas em

            Lisboa.

 

      Esqueceu êste autor a grande Peste  Negra, que quase  no final da Idade Média, cerca de 1358 / 59, assolou a Europa e, portanto, também Portugal com enormes consequências morais e materiais, como se pode ver nos trabalhos publicados na revista Cultural da Câmara de Braga, " Bracara Augusta ", pelos conceituados investigadores Baquero Moreno e Oliveira Ramos, como esqueceu que as pestes tiveram grande inclemência com as idas e vindas dos Cruzados Europeus à Terra Santa.

 

Braga, Novembro de 1994

 

                 

 

                                         LUÍS   COSTA 

     

 

 

 

 

 
 

 

 

 

publicado por Varziano às 16:34
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Sexta-feira, 28 de Maio de 2010

João Penha

João Penha (João de Penha de Oliveira Fortuna), poeta bracarense, nasceu nos finais de Janeiro de 1838,  no prédio nº 7, da Praça Municipal. Deve-se a Penha a repescagem do Soneto para a literatura portuguesa”. O vinho, as mulheres, o presunto foi a trilogia sua inspiradora,  manifestada ao longo da sua poesia. A sua negação pela água está bem representada na quadra:

                             “No coração alegria

                              Em conversas bom humor;

                              Pelo vinho simpatia,

                              Por água, um profundo horror.

Durante anos o poeta foi vítima do esquecimento injusto dos bracarenses, e só em 1939, é que passou a ser lembrado, quando lhe ergueram um busto, no Largo de São João do Souto, da autoria de António de Azevedo. Mas a sina de João Penha, estava traçada, a água que em vida tinha sido o seu “horror”, depois de morto, vingou-se. No busto, a seus pés, no largo tinha um espelho de água; quando o transferiram para a Avenida, o canteiro onde o colocaram, ficava paredes meias, com a entrada de um poço e, finalmente, no Rechicho, está sobre uma antiga fonte. Também a inauguração do busto, não foi muito apressada. Vários meses, pronto, esteve coberto por uma zarapilheira, até que um grupo de irreverentes estudantes, numa noite, resolveu fazer a inauguração, rapando da cobertura e colocando na base do plinto a quadra:

                             “Quando o Penha viu a água

                             A chegar-lhe quase à testa,

                             Não se conteve bradando,

                             Mas que grande…….é esta?   

publicado por Varziano às 17:16
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